"A Fei zheng chuan" ("Days of Being Wild") by Wong Kar-Wai
(1991)
Não tem a energia destoante de “Chungking Express” (1994), a insigne dolência de “Happy Together” (1997) ou a depurada e encantatória melancolia de “In the Mood for Love” (2000), no entanto “Days of Being Wild” é, à semelhança dos anteriores, um filme maior de Wong Kar-Wai, e neste caso, o primeiro que realizou a poder figurar nessa categoria. O motivo é simples, é aqui que o realizador consegue emaranhar com eficácia os preceitos adiantados no seu anterior “As Tears Go By” (1988 – a sua primeira longa-metragem), sendo concretizados de forma habilidosa, e que no futuro iriam gerar resultados igualmente desafiantes: planos longos, meticulosamente trabalhados; música utilizada para enaltecer o que é exposto visualmente (e este é um dos esforços mais bem conseguidos na realização de Kar-Wai – nos seus filmes o aproveitamento desse elemento nunca é superficial nem complementar, mas sim fundamental); a exploração da sensualidade dos movimentos da câmara, os tons de uma fotografia exemplarmente trabalhada e os enquadramento de espelhos para transmitir uma maior sensação de envolvimento no espaço onde a acção se desenvolve. Porém também temos os actores - e no caso destes, a sua beleza física para além da postura que adoptam e das suas gratificantes interpretações, dignificam os enredos romanescos e suportam o alento da criação da típica e desconcertante desorientação do realizador na forma de estruturar os argumentos.
Em “Days of Being Wild” a acção desenvolve-se em Hong Kong, 1960, onde nos deparamos com York (Leslie Chung), um jovem sedutor que surge como ponto comum a todas as outras personagens do filme: a tímida rapariga que trabalha na bilheteira e no bar de um estádio de futebol Su Li-Zhen (Maggie Chueng), a bailarina exótica Mimi (Carina Lau) , um polícia que faz rondas nocturnas (Andy Lau), um amigo (Jacky Cheung); e finalmente a mãe adoptiva (Rebecca Pan). As relações desenvolvidas entre estas personagens memoráveis têm todas um carácter muito particular devido à voluptuosa ambiguidade com que se constroem e dos conflitos que delas advém.
Wong Kar-Wai é um realizador prodigioso, engenhoso na construção de novas qualidades de uma cultura Pop sem perder o sentido iconoclasta necessário à construção de um legado incontornável com um impacto emocional veemente, sendo “Days of Being Wild” um exemplo notável disso.
1 comment:
concordo. wong kar-wai é um cool e este filme em particular é maravilhoso.
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